Dormir mal significa uma avaliação negativa do sono mas que nem sempre é reconhecida da mesma forma por todas as pessoas. Dormir mal envolve a quantidade e qualidade do sono.
As consequências de um mau sono refletem-se nas horas seguintes, mas também nos dias e anos seguintes, tudo isto dependente da quantidade e intensidade do ou dos episódios
Por falta de estudos científicos e/ou desconhecimento do público em geral, sempre existiram mitos e conceitos errados em que é notável classificar-se como “bom sono” aquele cuja descrição indica claramente tratar-se na realidade um mau sono, como por exemplo considerar que alguém tem um sono invejável pois “chega à cama e em segundos adormece“, “dorme 10 a 12 horas“, ou até mesmo “dorme profundamente e ressona que até os vizinhos acordam“…
Quantidade de sono
Os estudos mostram que normalmente o bebé, até ao ano, dormirá cerca de 14h por dia, o adolescente e o adulto jovem atingem o planalto das 8 a 10 horas por dia e o idoso, dormindo 7 a 8 horas, será aceitável.
Não existem tabelas com o número de horas ideal para cada idade. A quantidade ideal de sono varia com a idade, sexo, genética, ambiente e ocorrências antes e durante o sono.
Nem todos os humanos necessitam da mesma quantidade de sono e no mesmo indivíduo podem ocorrer variações. Importante é que essas variações não causem distúrbios.
Qualidade de sono
Este setor da avaliação do sono é extremamente complexo e não será por acaso que algumas pessoas com um mau sono acham que dormem bem, enquanto outras referem queixas que são apenas ocorrências usuais e variantes do normal.
Atualmente, falar da qualidade do sono passou a fazer parte da avaliação da saúde das pessoas.
Para avaliarmos a qualidade do sono, seja da criança, adolescente, adulto ou idoso, deveremos em primeiro lugar saber o que sente a pessoa em causa e/ou o que os pais, companheiros ou testemunhas sabem sobre o sono da pessoa.
“durmo bem, não sinto nada, estou aqui porque o meu companheiro (ou companheira), marcou a consulta…” Esta frase é muito frequente na consulta do sono.
A história clínica detalhada, exame físico, exames complementares como naso-faringo-larigoscopia, RX, TAC análises de sangue, estudos do sono (Polissonografia, Teste de latências múltiplas do sono) fornecem informações que permitem um diagnóstico e tratamento.
Consequências de um mau sono
Tudo no ser humano pode ser afetado por um mau sono e um mau sono pode também afetar tudo na vida do mesmo.
Quando se fala em “tudo” no ser humano pode parecer uma força de expressão, mas não é. O sono está diretamente relacionado com o cérebro e o cérebro vai influenciar todas as atividades do nosso corpo, sejam físicas ou psíquicas; usualmente o cérebro coordena todas as atividades para manter o corpo nas melhores condições.
A tríade mente, cérebro e corpo é indissociável e fortemente influenciada pelo sono, sendo o inverso também verdade.
A experiência comum mostra alguns evidências:
Humor – dormir mal está muito relacionado com uma certa intolerância a situações que no geral seriam consideradas perfeitamente aceitáveis.
Emoções – Situações de emoções negativas muito repetidas podem levar a um mau sono, a um sono fragmentado e muitas vezes curto. Também as reações emotivas são influenciadas por um mau sono.
Hipertensão arterial – alguns distúrbios do sono estão diretamente relacionados com o aparecimento de hipertensão ou o seu agravamento.
Acidentes – É por demais conhecido, quer por artigos científicos quer pelo conhecimento geral, que um mau sono é muitas vezes relacionado com acidentes. Estudos estatísticos mostram que há mais acidentes por distúrbios de sono que por álcool ou drogas.
Sistema imunológico – o organismo está constantemente a ser atacado, obrigando o mesmo a defender-se, criando mecanismos que envolvem hormonas e células de defesa. Mesmo uma só noite de privação de sono pode ter consequências negativas no sistema imunitário. Um mau sono crónico pode, segundo alguns estudos, baixar as defesas em mais de 65%.
Sistema digestivo – A maioria das pessoas já sentiu ou ouviu alguém algo que é atualmente um fato comprovado – um mau sono pode causar má digestão, disfunção intestinal ou agravamento de doenças como a Doença de Crohn.
Cefaleias – Um sono de má qualidade pode causar agravamento de cefaleias crónicas ou aparecimento de cefaleias agudas.
Memória – Quer a memória motora quer a memória declarativa são altamente influenciadas pelo sono de má qualidade.
Aumento de peso – a saciedade é regulada por múltiplos mecanismos que envolvem várias hormonas sendo a grelina que nos aumenta o apetite e a leptina o oposto. A privação do sono acarreta um aumento da grelina, segundo alguns estudos.
Células nervosas cerebrais – Segundo estudos recentes, a manutenção do número de células nervosas assim como a formação de novas células é influenciada pela quantidade e qualidade de sono.